A prática de exercício físico - a par com a filosofia - era um pilar essencial n'A República idealizada por Platão. Ou seja, o estado idealizado pelo dito Pai da filosofia grega, tinha a cultura física como irmã da cultura intelectual. Isto não seria de admirar, numa época em que as cidades-estado deveriam estar estruturadas com a segurança militar adequada à própria proteção, numa era em que as guerras eram eminentes. De qualquer forma, há quatro questões muito curiosas na posição de Platão acerca do exercício:
1) O praticante de exercício é designado de «aluno» e o treinador de «mestre», o que sugere uma relação entre treinador e praticante como sendo de transmissão de conhecimento - a verdadeira "educação física".
2) A atividade do treinador é comparada à do militar, do médico e do capitão de um navio, o que denota atribuição de responsabilidade e relevo na sociedade.
3) Considera que o praticante tem o dever de tudo informar acerca do seu estado físico - o que, infelizmente, devido à perseguição sôfrega e irrealista da estética que os clientes da atualidade levam a cabo, se vai tornado numa urgente suplica: «praticante, POR FAVOR, conte-nos TUDO!».
4) Porém, ainda considera haver uma pior mentira que o praticante mentir ao treinador: a educação falaciosa do próprio «mestre» - as mentiras que contam aos treinadores. Neste ponto, Platão chegou mesmo a defender que os «chefes» - onde inclui os militares, médicos, treinadores e capitães - deverão ter uma educação inteiramente verdadeira. Mentir a um treinador (que é coisa que se vê muito no mercado do fitness, com ensinamentos totalmente desprovidos de ciência e filosofia) teria sido o mesmo que ensinar um guerreiro a ter medo da morte.
Em conclusão, as "escrituras" do fitness, na sua maioria, não passam de poesia, «não que não sejam poéticas e doces de escutar para a maioria; mas, quanto mais poéticas, menos devem ser ouvidas por crianças e por homens que devem ser livres, e temer a escravatura mais do que a morte. […] Mas, se um particular mentir a tais chefes, diremos que isso é um erro da mesma espécie, mas maior ainda do que se um doente não dissesse a verdade ao médico, ou um aluno não revelasse ao mestre de ginástica os seus sofrimentos físicos, ou um marinheiro não referisse a verdade ao piloto sobre o navio ou a tripulação, quanto à sua situação e à dos seus companheiros de viagem.» (Platão, A República)
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